Por amar demais sua ocupação, é comum que a pessoa se culpe demais a cada erro cometido, vire a noite no trabalho e deixe familiares e amigos em segundo plano. Para a psicóloga e psicanalista Blenda de Oliveira, membro da SBPSP (Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo), se a pessoa é viciada em trabalho e não consegue criar outras áreas de prazer na vida, ela volta toda a sua energia para o trabalho. "Isso leva a um nível de estresse e a uma solidão muito grandes, pois não existe nada além do emprego", diz. Dedicação para compensar outras áreas A dedicação excessiva pode ser sinal de que algo não vai muito bem na vida pessoal, segundo Blenda. “Às vezes, a pessoa trabalha muito para fugir de uma crise, para não se relacionar com os outros. O trabalho acaba sendo uma proteção”, diz. Segundo Lucia Oliveira, pesquisadora e professora de Recursos Humanos e Comportamento Organizacional do Ibmec do Rio de Janeiro, é comum que pessoas com a vida pessoal insatisfatória transfiram todas suas expectativas para o trabalho. “Sem perceber, ela pode se dedicar demais não por amar o trabalho, mas por não estar contente com a vida. Para compensar a falta de algo, a pessoa fica tão absorvida pela profissão que se esquece da vida pessoal, que acaba sendo ainda mais prejudicada”, afirma.
Como não deixar que o sonho vire pesadelo Ao receber a oportunidade de trabalho dos sonhos, é preciso ter maturidade profissional e se preparar antes que ele se torne um pesadelo, segundo a psicóloga Ana Cristina Limongi-França, professora do departamento de administração da FEA (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade) da USP, diretora do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Gestão da Qualidade de Vida no Trabalho e coordenadora da FIA. “É preciso ter uma preparação para amar demais, senão você entra em estafa, adoece, sua produtividade cai e você rompe vínculos com pessoas importantes”, afirma. “Dedicar-se é ótimo, mas é preciso avaliar os limites para não se esgotar”. Ter a noção de que você certamente sofrerá alguma frustração e engolirá sapos em certos momentos também é importante, segundo Blenda. “As coisas nunca são do jeito que a gente deseja e imagina. Para evitar o trauma, a pessoa pode se preparar melhor, levantar vantagens e desvantagens do trabalho e como ela poderá lidar com isso. Essas reflexões, inclusive sobre possíveis pontos negativos, prepararão você para as frustrações que virão”, diz. Ter uma visão romantizada do trabalho é um problema, porque o emprego dos sonhos pode não dar certo, segundo Bleda. "Isso não é ser pessimista, é ter uma visão mais ampla”, diz ela.
Andrezza Czech Do UOL, em São Paulo
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