quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Diretor de filme de ação sobre a Rondesp fala das gravações e da produção; confira trailer. Realizador compara produção ao seriado Chaves: "de baixo custo, mas bom". Segundo a PM, trailer não representa realidade e nenhum policial foi autorizado a participar.

"Baixem as armas e mão na cabeça, para não morrer", adverte o popular delegado Deraldo Damasceno. Conhecido por entrevistas na televisão e por um mandato já concluído na Assembleia Legislativa da Bahia, ele voltou, dessa vez em uma obra de ficção.
Mas os protagonistas do novo filme do cineasta Mario Sergio Santana, 39 anos, conhecido como Dragão Marinho, são homens da Rondesp (Rondas Especiais) da Polícia Militar da Bahia. Fardados e fortemente armados, eles atuam em operações para desarticular uma quadrilha liderada por um traficante que fugiu do Rio de Janeiro, após a ocupação policial da Vila Cruzeiro, em 2010. O cenário inclui, além de becos e vielas de Salvador e da Região Metropolitana, o Farol da Barra, o Pelourinho e a vista do mar no Subúrbio Ferroviário.
Mario Sergio é o responsável pelo filme de ação (Foto: Arisson Marinho/CORREIO)
O trailer do longa, divulgado no sábado passado, tinha, até esta terça-feira (15), mais de 25 mil visualizações. Nas redes sociais, internautas falam sobre a produção com bom humor e muitos associam a produção a uma comédia. “O filme é baseado em Tropa de Elite, mas a gente não toca nessas questões (corrupção e violência policial). A gente sai para o outro lado, para o policial que é importante para a segurança da população. Se em Tropa de Elite a gente tem o traficante Baiano, aqui o nosso chama Carioca, para devolver a porrada. A gente não leva desaforo”, explica Dragão Marinho, o idealizador.
Ele leva com bom humor as críticas levantadas sobre a verossimilhança das cenas apresentadas, lembra que se trata de um filme independente e afirma que não se abala com as provocações por conta do histórico de filmes que já produziu. “Cada um recebe a obra de arte de uma forma diferente. Rondesp é um filme de ação policial. Eu já fiz um filme de terror que tem gente que chega para mim e diz que dá risada. Vai mesmo de cada um. Mas imagine quando eu fizer uma comédia”, admite.
Em nota, a Polícia Militar disse que não emitiria opinião sobre a obra de ficção “e, mesmo sem ter tido acesso ao conteúdo, apenas ao trailer, a Corporação afirma que não representa a realidade da Companhia Independente de Policiamento Tático”. Ainda segundo o comunicado, nenhum policial foi autorizado para realizar gravação. A corporação, no entanto, não respondeu se os policiais que participaram do filme sofreram ou podem ter algum tipo de punição.
O ex-deputado e delegado Deraldo Damasceno não foi encontrado para comentar a participação no longa-metragem.
Deraldo Damasceno aparece no trailer do filme(Foto: Reprodução/YouTube)
Sem apoio da PM
Ele ressaltou que, embora tenha sido atendido nos pedidos de informações na Secretaria da Segurança Pública (SSP), o filme não tem nenhum apoio da instituição. “As pessoas estão associando como se fosse um filme da Secretaria de Segurança Pública, mas não é. É um filme independente. Também não houve nenhuma perseguição ou censura da polícia para que não fosse feito”, frisa.
O idealizador defende que o filme mistura ficção e realidade. “Simões Filho está entre as cidades mais violentas do Brasil pelo Mapa da Violência. Salvador também tem problemas com tráfico de drogas e grupos de extermínios. É a guerra do tráfico que faz vítimas”, analisa. O grande herói do filme, explica o roteirista, são os policiais da Rondesp. “O adolescente que ver esse filme vai querer ser o policial de amanhã”, comenta.
Embora o diretor afirme que evitou excesso de cenas violentas e com muito sangue, só no trailer, de 1 minutos e 41 segundos, são exibidas cinco mortes e dezenas de tiros são disparados. “Mas também, muita gente vai presa no filme”, replica. As armas que aparecem nas gravações, segundo Dragão Marinho, são de paintball ou confeccionadas artesanalmente.
Segundo a assessoria da Polícia Militar, “nenhuma arma ou equipamento da PM foi cedido às filmagens”. As gravações nos espaços públicos, com as armas de mentirinha e viaturas, foram feitas com intermediação da Bahia Film Commission – comissão da Diretoria de Audiovisual (Dimas), da Fundação Cultural do Estado (Funceb), vinculada à Secretaria estadual da Cultura (Secult), que tem como função prestar apoio técnico e logístico a empresas e produtores audiovisuais.  Foi essa comissão que comunicou as companhias de polícia que acompanharam as filmagens. “No Pelourinho foi engraçado. Os turistas acharam que era uma demonstração, um evento para eles”, lembra o diretor.
Pontos turísticos de Salvador foram usados em gravação
(Foto: Reprodução/YouTube)
A assessoria da PM também se pronunciou sobre as filmagens em locais públicos. “Quanto às locações do filme, não compete à PM autorizar qualquer tipo de gravação fora do ambiente militar de responsabilidade da Corporação”, disse, em nota.
Recentemente, a PM baiana também virou tema de outra obra cinematográfica, mas com um olhar nada prestigiado. A história de Geovane Mascarenhas de Santana, 22 anos, que depois de uma abordagem da Rondesp, na Calçada, foi colocado na viatura, executado, esquartejado e queimado, chamou a atenção do cineasta francês Bernard Attal. O documentário, ainda sem título definido, deve ser lançado no ano que vem.

Realização
O filme envolve 123 pessoas, quase todos voluntários ou que fizeram contrato de serem pagos apenas após os resultados do filme. Mario foi quem escreveu o roteiro, fez a captação de recursos, dirigiu e protagoniza o longa como o sargento Lopes, que está à frente da corporação.
As gravações do longa, que tem 1 hora e 25 minutos, começaram em agosto de 2013 e o filme está em fase de finalização desde o mês passado. “Quem vê nossas outras produções no YouTube percebe que evoluímos e chegamos a esse nível do Rondesp”, afirma.
Segundo Mario Sergio, R$ 70 mil foram investidos no filme, mais da metade desse valor retirado do bolso do idealizador, com os recursos captados com o trabalho com filmagens de eventos e com a venda de DVDs de outras produções, além de exibições públicas patrocinadas ou com ele mesmo controlando a bilheteria. “Se for contabilizar as doações, o trabalho que seria dos voluntários ou de quem trocou favores por iniciativa no marketing do filme chegaria a uns R$ 200 mil o valor do filme”, avalia.
Tipo ChavesPara o atual filme, Mario Sergio diz que aguarda a confirmação de uma grande empresa de exibição cinematográfica de Salvador que já demonstrou interesse pelos direitos do filme. O filme é gravado com uma câmera DSRL (Canon T2I), adaptada segundo ele para gravações em full HD. “É um filme de baixo orçamento, mas é bom. É como Chaves: de baixo custo, mas bom, sabe falar com as pessoas”, compara o idealizador.
Assista ao trailer:


Perfil do realizador
Wagner Moura é a grande inspiração de Mario Sergio. “É um exemplo de onde a Bahia pode chegar”. Mas ele acredita que o cinema e a produção local é mesmo pautada e mais próxima da produção norte americana de cinema. Sem formação específica, ele realiza cursos sobre cinema e de técnicas em diferentes instituições. Antes de Rondesp Tropa de Elite Bahia ele se gaba do filme Vingança da Morte (2010), que sendo ele vendeu 30 mil DVDs em produção e distribuição independente.
Praticante de artes marciais como caratê e ninjútsu, Dragão Marinho chegou ao cinema por elas. O fã de Jackie Chan tenta colocar personagens ligados às artes marciais em todos os filmes, inclusive em Rondesp – um ninja faz a segurança de Carioca, o traficante, e entra em combate com a PM. Mas sua grande inspiração é mesmo o diretor e produtor cinematográfico Steven Spielberg. “Claro que o que ele está anos luz distante do que a gente tenta fazer, mas ele é nossa inspiração. Tentei usar planos que ele usa para levar o público para dentro do filme, para que a câmera seja o olho do público, e é isso que ele faz”, afirma.
* Colaborou Thiago Freire

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