terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Algumas Igrejas Precisam de Uma "Lava Jato"!


Pichada após ser mencionada em denúncia da Procuradoria Geral da República contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), a igreja evangélica Assembleia de Deus, em Campinas (SP), apagou o protesto que pedia "cadeia" para o peemedebista. De acordo com o documento enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF), o deputado teria orientado dois depósitos à instituição, que somam R$ 250 mil, para lavar dinheiro de propina no esquema de corrupção da Petrobrás. O político se diz inocente.

G1 foi ao templo localizado na Rua Barão de Parnaíba, uma das vias mais antigas da região central, nesta terça-feira (25). Em meio às obras que visam garantir mais acessibilidade aos fieis na entrada principal, a igreja mantém a rotina de cultos e silêncio sobre o suposto envolvimento na Operação Lava Jato. Tanto que um voluntário garantiu desconhecer o protesto contra Cunha registrado na fachada, tampouco a correção improvisada e ainda com tinta fresca.
Igreja, em Campinas, teria recebido dois depósitos no esquema de corrupção (Foto: G1 Campinas)Igreja, em Campinas, teria recebido dois depósitos
no esquema de corrupção (Foto: G1 Campinas)
Dentro do templo, pelo menos 60 acompanhavam o culto ministrado por um pastor - que não é o titular - na manhã desta terça. Uma diaconisa contou que a chuva reduziu o número de visitantes, ao lembrar que o local tem capacidade para quase 500. Ela preferiu não ser identificada pelo nome.
"Todo dia tem culto. Aqui há cura, milagres. Se fosse qualquer igreja, não iria resistir todo esse tempo", defende ao mencionar que a instituição é quase centenária na cidade. Só adota cautela e fica desconfortável ao ser questionada sobre o suposto uso da instituição para lavagem de dinheiro. "Acredito que seja mentira, mas eu não sei da vida financeira dos outros", falou, ao lembrar que viu o pastor titular pela última vez no domingo (23). "Nada mudou."

Denúncia contra Cunha
O presidente da Câmara foi denunciado sob a acusação de ter recebido, entre junho de 2006 e outubro de 2012, pelo menos US$ 5 milhões para viabilizar a contratação de dois navios-sonda para a Petrobras. Na denúncia, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, narra como era o esquema à época e diz que os depósitos ao templo, em 2012, foram orientados por Cunha.
"É notória a vinculação de Eduardo Cunha com a referida igreja. O diretor da referida igreja perante a Receita Federal é Samuel Cassio Ferreira, irmão de Abner Ferreira, pastor da Igreja Assembleia de Deus Madureira, no Rio de Janeiro, que o denunciado frequenta. Foi nela inclusive que Eduardo Cunha celebrou a eleição para Presidência da Câmara dos Deputados", diz texto da denúncia. Clique para ver a íntegra.

Atualmente, Samuel Cassio Ferreira é pastor na Assembleia de Deus Brás, na capital paulista, enquanto que o filho dele, Manoel Ferreira Netto, é o pastor titular da igreja em Campinas.
A funcionária responsável pelo atendimento no templo de São Paulo afirmou ao G1 por telefone, nesta terça-feira, que Samuel Cassio Ferreira permanece como presidente da instituição, mas alegou que ele não estava e não tinha acesso a outros contatos do pastor, nem de possíveis advogados. Manoel Ferreira Netto também não foi encontrado na igreja de Campinas durante a manhã.

Orientação para não falar
Dois homens que se identificaram como auxiliares do pastor titular informaram que orientação da "liderança da igreja" é para que não se manifestem sobre o assunto. "Quando for o momento correto, o departamento de comunicação ou jurídico entrará em contato com a imprensa para comentar", falou um deles, embora a denúncia de Janot já tenha sido feita há cinco dias.

O outro disse que a rotina no templo não mudou, uma vez que "ninguém tem motivo para se esconder", e salientou que a reforma visa garantir mais acessibilidade aos deficientes físicos que frequentam os cultos. "A igreja vai completar 84 anos, então precisamos mudar a escada, fazer melhorias", completou.
O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), se encontra com trabalhadores e sindicalistas no auditório do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, no bairro da Liberdade, região central da capital paulista (Foto: Moacyr Lopes Junior/Folhapress)Eduardo Cunha diz que não cogita renunciar ao
cargo (Foto: Moacyr Lopes Junior/Folhapress)
Cunha se defende
Procurada pelo G1 para comentar sobre a pichação e suposta orientação para depósitos à igreja, a assessoria de Cunha informou que somente o advogado dele, Antonio Fernando de Souza, poderia se manifestar sobre o assunto. A reportagem, contudo, não conseguiu contato com ele.

No mesmo dia em que foi denunciado, Eduardo Cunha divulgou uma nota, por meio da assessoria, para dizer que é "inocente” e foi “escolhido” para ser alvo de investigação. "Estou absolutamente sereno e refuto com veemência todas as ilações constantes da peça do procurador-geral. Sou inocente e com essa denúncia me sinto aliviado, já que agora o assunto passa para o Poder Judiciário”, diz texto. No mesmo documento, ele afirma confiar na isenção e imparcialidade do STF.

No dia seguinte à denúncia, o presidente da Câmara adiantou que não cogita renunciar ao cargo, mesmo diante da possibilidade de se tornar réu no STF.  "Não há a menor possibilidade de eu não continuar no comando da Câmara, abrindo mão daquilo que a maioria absoluta me elegeu em primeiro turno. Renúncia é um ato unilateral. Isso não faz parte do meu vocabulário, e não fará. Assim como covardia", afirmou. Eleito em fevereiro, ele tem mandato até 2017.

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