quarta-feira, 18 de maio de 2011

16 de Maio-"ACM`S" invadem a UFBA! E 10 anos depois o carlismo continua...







Há 10 atrás, um grupo de estudantes mobilizou milhares de pessoas em uma série de manifestações, numa jornada de lutas que incendiou Salvador, acuou o carlismo e precipitou a sua derrocada. O seu ápice foi no dia 16 de Maio de 2001, com a invasão da UFBA.
O objetivo dos estudantes era mostrar ao Brasil que eles exigiam a cassação do mandato do Senador Antônio Carlos Magalhães, envolvido juntamente com o então senador José Roberto Arruda (ex-PSDB) num conhecido episódio de violação do painel do Senado e quebra do sigilo do voto de parlamentares. ACM falava de um amor que os baianos não nutriam. Era preciso, na opinião dos estudantes, mostrar que a Bahia não compactuava com aquilo. O poder de ACM, naquele momento, era baseado no temor. Rompido este último, o castelo desmoronou.



A estratégia para driblar a repressão consistia em enganar a polícia e mudar a direção da passeata, entrar pelo campus da Universidade Federal da Bahia e, por dentro da Faculdade de Direito, chegar à casa de ACM, no bairro da Graça. Pega de surpresa, a Polícia de Choque percorreu as ruas de Salvador num trote apressado, para recompor-se no Vale do Canela e na Faculdade de Direito. Então, mesmo diante de um Mandato Judicial expedido pela Justiça Federal, a Tropa de Choque da Polícia Militar, sob o comando da Secretária de Segurança Kátia Alves e do Governador César Borges, invadiu a Faculdade de Direito com bombas de gás lacrimogêneo, cães, balas de borracha, gás de pimenta, cavalos e toda parafernália repressiva. No Vale do Canela, estudantes buscavam se refugiar em caçambas de lixo e nas faculdades de medicina, administração e educação. Mas a polícia atirava dentro dos prédios. Nem mesmo durante a ditadura militar a UFBA tinha sido tão violada.
A simbologia da chegada ao prédio em que morava ACM, e da lavagem da sua calçada, era uma imagem poderosíssima que o carlismo, e seus bajuladores, jamais poderiam permitir.
O ato significou uma ruptura com o medo e o consenso da passividade. A invasão da UFBA, dias após outra grande repressão na Avenida 7 de Setembro, mostrou à sociedade o tamanho da covardia e truculência daquele governo. As imagens da invasão ocuparam o noticiário nacional. O jornal A Tarde, um dos jornais nordestinos com maior circulação, teve um de sues melhores momentos e deu farta cobertura à jornada.
Na Câmara e no Senado parlamentares corriam aos microfones para denunciar, em tempo real, os acontecimentos. Os pais baianos assistiram pelos noticiários televisivos as imagens da multidão de jovens sendo bombardeada e espancada.
No outro dia (17 de maio de 2001), após milhares de estudantes percorreram o mesmo trajeto do dia anterior e, diante de um governo acuado pela repercussão negativa da invasão do dia anterior, assistiu à lavagem da calçada da residência do senador. ACM, acuado em Brasília e na Bahia, renunciou para não ficar inelegível. Na sua volta, outra manifestação lhe esperava, para contrapor-se a que ele mesmo organizara.
O dia 16 de Maio de 2011 pode ser descrito como o começo da queda do império carlista.
O poder carlista nunca mais seria o mesmo. Mais do que isso, sua pretensa legitimidade foi posta em xeque. Naquele dia, os baianos superaram o silêncio e o medo. O império político de ACM começou a ruir.
O dia 16 de Maio de 2001 é parte importante da história de lutas dos estudantes brasileiros. Cabe aos vivos referenciá-lo com um dia de defesa do direito de livre manifestação do pensamento e de enfrentamento ao abuso do poder.





Relato de Um Revolucionário.

16 de maio completou 10 anos que a tropa de choque da PM baiana invadiu o campus da UFBA para reprimir manifestação de estudantes e lideranças contrárias ao carlismo. No momento, ACM era Senador, que sofria processo de cassação por violar o painel do Senado e César Borges era seu representante baiano na condição de Governador do Estado da Bahia.

Eu era estudante de História e exercia cargo de representação estudantil na UFBA. O 16 de maio atraiu milhares de estudantes, inclusive estudantes do antigo ensino médio de escolas particulares. Vale resaltar, que o 16 de maio contagiou militantes também por força de noticiário midiático, pois manifestação anterior foi duramente reprimida em avenida de Salvador e divulgada para todo o país. A Tv Bahia não cobriu esse evento contrário a ACM e a Rede Globo só divulgou imagens no Jornal Nacional graças as filmagens cedidas pelos sindicato dos bancário do Estado. Crise entre as empresas televisivas tornaram-se pública.

Fui a manifestação com Janaína, hoje minha esposa, e com um grupo de moradores da Residência Estudantil da UFBA, onde eu também morava. O Vale do Canela parecia um campo de guerra. Vi pessoas machucadas, principalmente estudantes secundaristas. Lembro bem do outdoor, que por ironia e coincidência estampava a frase: "Bahia, Bahia, que lugar é esse?". Eu e Janaína se perdemos dos amigos da Residência. Cada um tinha que se virar de qualquer jeito. Escondemos da polícia no auditório da faculdade de Medicina e alguns estudantes fascistas gritavam: "olha o que esses marginais fizeram?! Pararam as aulas. Merecem ser presos".

Mas a contradição mesmo se ver no presente. Vice-Governador de César Borges, Otto Alencar, hoje é o Vice do atual governo Wagner. "Outra situação curiosa é o fato de o comandante-geral da Polícia Militar do governo Wagner ser o coronel Alfredo Castro. Em 16 de maio de 2001, ele, que era major, executou a
ação do Batalhão de Choque, do qual era comandante, na Ufba e é flagrado, no documentário “Choque”, de Kau Rocha, agredindo um estudante" - lembra a reportagem de A Tarde de 15 de maio de 2011.

Certamente, palestras várias aconteceram durante a semana sobre o tema. Porém, resta algumas perguntas: Valeu a pena? Por que até hoje alguns inimigos da democracia e do povo continuam no poder? Será que o preço da chamada governabilidade justifica a tolerância dessa relação política fisiológica?

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